sábado, 7 de dezembro de 2013

JOGOS VORAZES EM CHAMAS


JOGOS VORAZES CHAMAS DA VINGANÇA

Direção: Francis Lawrence.
Roteiro: Simon Beaufoy, Michael Arndt, Suzanne Collins (Livro).

Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Elizabeth Banks, Lenny Kravitz, Stanley Tucci, Philip Seymour Hoffman, Patrick St. Esprit, Meta Golding, Jeffrey Wright, Amanda Plummer, Sam Claflin, Lynn Cohen, Jena Malone, Toby Jones, Paula Malcomson, Willow Shields.
Depois de uma safra de filmes de ficção científica que vai de “Cidade das Sombras”, passando por “Matrix” até chegar a “Distrito 9”, assistir ao filme “Jogos Vorazes” (The Hunger Games, 2012) é um retrocesso. Seu mundo distópico inspirado no imaginário orwelliano do Big Brother do livro clássico “1984” daria uma aparência supostamente “contestadora” e "crítica" a um produto que tenta reproduzir o sucesso de franquias como “Crepúsculo” e “Harry Potter” com um produto "diferenciado". Porém, a crítica cinematográfica parece desatualizada: o sistema que banca o discurso “contestador” de filmes como esse há muito superou o Big Brother de Orwell e é capaz de ironicamente brincar com seus mundos distópicos e fazer o reality show rir de si mesmo.

Adaptado do livro voltado ao público juvenil The Hunger Games de Suzanne Collins, o filme Jogos Vorazes foi saudado pela crítica como um produto diferenciado dentro da estratégia hollywoodiana de produção de franquias como Crepúsculo ouHarry Potter. Ao lado dos indefectíveis amores impossíveis e adolescentes incompreendidos e melancólicos com os tradicionais problemas de relacionamentos familiares, Jogos Vorazes teria um conteúdo “mais contestador”, por ser inspirado em obras distópicas como 1984 e Admirável Mundo Novo com discussões sobre o autoritarismo, exploração de classes, culto a celebridades, poder, obediência e controle.

É uma franquia para o cinema baseada numa obra literária infanto-juvenil. A única que ficaria à altura é Harry Potter, mas o material criado pela escritora americana Suzanne Collins consegue ser mais urgente, sério e provocador, mesmo disfarçado em um blockbuster pipoca para ser consumido pelos jovens. O segundo exemplar, Em Chamas, não deixa a bola cair. Vejam se essa ideia soa familiar, ou talvez com uma realidade terrivelmente próxima: Um governo totalitário e corrupto usa a TV como forma de anestesiar o povo, que se banha em grande miséria enquanto os poderosos usufruem de um status intocável.




Essa é a ideia central da obra, que ainda exibe diversas outras subcamadas em sua trama, como a personalidade de cada um dos vários personagens bem explorados. Em matéria de ideias latentes, podemos afirmar que essa produção “mirada ao público jovem” (como é definida ainda por muitos simplesmente por preconceito), consegue ter mais o que dizer até mesmo do que a maioria dos filmes de super-heróis, extremamente populares e que se tornaram um subgênero por si só. Jogos Vorazes é o filme com uma super-heroína que grandes empresas (como a Marvel) jamais conseguiram fazer. E essa é justamente outra quebra de barreira do filme, emplacar uma superprodução de conteúdo protagonizada por uma jovem mulher.

É claro que aqui também é encontrada muita adrenalina, cenas de ação, aventura, momentos tensos, e o típico triângulo amoroso. Mas dá pena de quem só consegue enxergar isso. Ao contrário da maioria do que é visto dentro do cinema de entretenimento de Hollywood, dá prazer anunciar que a franquia Jogos Vorazes continua a ter o que dizer, e a querer ser relevante e pertinente sobre assuntos como política, sociedade, e por que não, entretenimento. Além do material principal, tudo é tão bem feito e detalhado dentro da produção, que acreditamos e sentimos cada momento em relação ao que nos é mostrado na tela. Isso é saber contar uma história.



Um exemplo disso é numa cena durante os jogos, quando uma fumaça ácida é solta, que quando entra em contato com a pele humana a desfigura com terríveis queimaduras instantaneamente. O conceito é tão louco e surreal, que o imagino em qualquer filme de super-herói, como Homem-Aranha, ou Superman, sem que déssemos a devida importância. O segredo aqui é que os envolvidos (diretor, produtores, escritores e atores) criam personagens com quem nos importamos, mortais e falhos. Então quando uma ameaça chega, mesmo que desse nível de surrealismo, sentimos por eles.

Em Chamas começa com os vencedores do último jogos vorazes, Katniss e Peeta (vividos por Jennifer Lawrence e Josh Hutcherson respectivamente), precisando manter a ilusão de seu romance para as câmeras. Seu relacionamento vem como forma de ameaça direta do presidente Snow (Donald Sutherland), já que a figura de Katniss incitou uma onda de protestos e revoltas contra o governo, em variados distritos. Nesse momento sobra alfinetada até mesmo para a vida forjada de celebridades, que imaginamos ser perfeita, como nos é vendida. São realidades que vão desde casamentos para esconder homossexualidade, até mesmo mudança brusca de comportamentos, ou melhor dizendo, reinvenção de uma personalidade ou marca (afinal será que existe desespero maior do que as das personas de Lady Gaga e Miley Cyrus).

Assim, o governante escuso logo desenvolve uma forma de calar a rebelião. Formular um novo jogo, comemorando seus 75 anos de existência. Uma edição apenas com ex-vencedores, já que os tais (e não apenas Katniss) representavam uma nova ameaça. Dessa forma, Peeta e Katniss voltam aos jogos. Junto com eles uma nova gama de personagens, dentre os quais valem ser mencionados o boa praça e exímio guerreiro Finnick (vivido por Sam Claflin, de Branca de Neve e o Caçador); o cerebral Beetee (Jeffrey Wright, de Cassino Royale); e a temperamental Johanna (Jena Malone, de Sucker Punch – Mundo Surreal). E dentre os novos personagens, ganham destaque o novo programador dos jogos, Plutarch (afinal qual filme não se beneficia em ter o grande Philip Seymour Hoffman no elenco), e o violento militar Comandante Thread (Patrick St. Esprit.)

Em Chamas pode ser considerado até mesmo superior ao seu original. Algo como O Império Contra-Ataca, referência a todas as sequências que excedem os primeiros filmes. Tudo é maior, principalmente o desenvolvimento da trama e dos personagens. A violência, e principalmente a crueza de situações também são elevados, sem nunca serem gratuitas. Esse não é um mal de mentirinha, e sim bem real. No quesito das atuações, a vencedora do Oscar Jennifer Lawrence (menina de ouro de Hollywood) também se excede numa atuação consciente e levemente exagerada (o chamado overacting). Nada que tire o impacto do melhor blockbuster do ano, que chega para deixar Homem de Ferro 3, Thor, e todos os heróis e marmanjos no chinelo. Esse, assim como a trilogia original da saga espacial de George Lucas, é um filme mais sombrio, e se encaixa perfeitamente como um episódio do meio, já que seu desfecho é brusco e inconclusivo.

Fonte: Pablo e os filmes

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