sábado, 7 de dezembro de 2013

LE PASSÉ (O PASSADO)


NÓS ASSSISTIMOS O PASSADO (LE PASSÉ)


filme tb esta disponivel no Google Drive dos Amantes pra quem queisr baixar)
Meu Deus, o que e Isso?? Mais uma vez O diretor iraniano Asghar Farhadi chega e nos deixa boquiabertos, em estado de extase,angustia, complacencia e ate mesmo revolta. Como sempre, 
Farhadi vem para que confrontemos nossas vidas e visoes!

Tempos que se sobrepõem.
Marie é o ponto de convergência de todas relações do drama. Os conflitos giram à sua volta: ela tem que lidar com o ex-marido iraniano, as duas filhas de outro casamento e o novo namorado, com filho pequeno e mulher em coma. Nessa conturbada costura afetiva, Marie confronta seu passado (o divórcio com Ahmad, que vem de Teerã para efetivarem a separação), seu presente (a crise com a filha e a relação com Samir, ainda casado com uma mulher em estado vegetativo) e futuro (a eminência de uma reconfiguração familiar, com o novo casamento e a incipiente gravidez). Nesse sentido, o cartaz do filme é bastante sintético: Samir, Marie e Ahmad dividem o mesmo quadro; os três estão em foco, mas cada um posicionado em um plano. Marie, ao centro, olha para cima enquanto os dois rebaixam o olhar. Apesar de seus conflitos e ambiguidades, ela é de fato a personagem que mais avança em direção à mudança, ao futuro.

Com o passar do tempo, vamos adentrando na complexidade das questões familiares, que trazem muitas revelações sobre os personagens e suas escolhas. Assim como nos filmes anteriores de Farhadi, as ações são plenas de significados e consequências morais. Ainda que encerrem desejos inconscientes, elas têm o potencial de desencadear importantes desvios e rupturas na história, que só aos poucos iremos compreender. Dessa forma, Marie é questionada em diferentes momentos do filme, e por diferentes pessoas, sobre não ter reservado um quarto de hotel para o ex-marido. Ela o instala em sua casa, a mesma que dividiram enquanto estiveram juntos, e que agora está sendo repintada. No início, justifica-se dizendo que não sabia se Ahmad realmente viria, já que sua visita precedente foi cancelada no último momento. Com o passar da trama, Ahmad entende essa decisão como um ato de vingança, por ele ter abandonado 4 anos antes a mulher e suas filhas (algo que é possível entender nas entrelinhas dos diálogos). Já Samir acusa Marie de não ter se resolvido com seu passado, ele sente na tensão latente entre Marie e Ahmad resquícios da relação que tiveram.

Ahmad é convocado não só a descobrir as mudanças na casa e na vida da família que um dia foi sua como a participar ativamente delas. Afinal, Marie parece não dar conta de tudo sozinha. A pintura da casa é interrompida por uma dor no pulso, que ela tenta esconder quando vai busca-lo no aeroporto. Vale atentar para a simbologia desse gesto de cobrir a antiga cor da casa por outra, nova e distinta. Marie está sempre alertando: “cuidado com a tinta fresca!”. O novo é ainda frágil, instável. O balde de tinta é deixado no corredor e Fouad (filho de Samir) o derruba. Não por acaso é Ahmad quem fica para limpar o chão.

Ele, de fato, desempenha um importante papel nessa complexa rede de relações: o de trazer à tona os não-ditos, os segredos, as verdades encobertas por mal-entendidos. Lembremos aqui da cena em que, para desentupir o cano da pia da cozinha, ele retira um bolo preto e fedido de sujeira que deve ter acumulado durante meses. Falta também a mediação de uma figura paterna para que Marie compreenda a dor e o conflito da filha mais velha, Lucie, que há alguns meses evita ao máximo se relacionar com ela e Samir. Ahmad é mais uma vez convocado, com seu tato e paciência, para buscar a razão de tantos desentendimentos.

Lucie feriu-se muito com a troca de maridos da mãe e tenta ao máximo impedir seu novo casamento. Marie se estressa profundamente com os conflitos que Lucie desencadeia e fuma descontroladamente, repassando suas angústias para o filho ainda em gestação. E a filha mais nova, que durante todo o tempo fica alheia às brigas que se passam ao seu lado, ao final começa a interessar-se por elas. O filme aponta, assim, para um tempo além do que somos capazes de ver, e indica que, mesmo depois do apaziguamento final, as ações continuarão a reverberar e a terem desdobramentos na vida dessas pessoas.
Parte do texto e de minha autoria e outra parte Lygia Santos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário