quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

UM estranho no lago

Um Estranho no Lago | Crítica

Suspense verdadeiramente hitchcockiano restabelece o sentido do voyeurismo, cenas de sexo gay explicito e muito nu frontal! 

Um Estranho no Lago

Um Estranho no lago

Por Magno Martins

O filme francês Um Estranho no Lago, dirigido por Alain Guiraudie, mostra um universo gay muito diferente, lúdico até por demais. A história gira em torno de um lago, onde diversos homens gays vão para curtir um espaço de nudismo. Sim, neste filme, homens são mostrados com nu frontal. Nada demais com relação à isso, afinal, o nu tem sua importância, sim, e muitas pessoas procuram filmes de temática GLBT para apreciar também corpos nus de atores e atrizes.

Não há problema algum com relação ao nudismo do local, porém a forma com que a história foi abordada no filme realmente deixou a desejar. No filme, homens vão para “caçar” e cenas de sexo explícito entre os frequentadores do  local são mostradas. O primeiro deslize do diretor talvez tenha sido não se posicionar de forma eficiente entre o erótico e o teor sexual, puramente.

Por Marcelo Hessel 

Alfred Hitchcock teria dificuldade de fazer seus suspenses atualmente porque hoje tudo é voyeurismo, e um senso de perigo se perdeu nos nossos tempos, com a banalização do olhar e o fim da privacidade. Diante de um filme como Um Estranho no Lago (L'Inconnu du Lac), porém, talvez o mestre das ameaças e do pudor considerasse que nem tudo está perdido.

A trama se passa em uma única locação, um lago na França onde gays tomam sol e se banham à procura deparceiros. O flerte acontece na beira da água e o matagal atrás do lago permite um mínimo de intimidade para transas rápidas. Franck (Pierre Deladonchamps) não parece temer o contato com estranhos - o que fica dito quando ele conta para um cara que não anda com camisinha. Ao assistir a um assassinato no lago, porém, Franck passa a ver as coisas diferentemente.

Longas do diretor francês Alain Guiraudie, como O Rei da Fuga e este Um Estranho no Lago, partem de premissas policiais para lidar com a criminalização dos gays - um anacronismo que persiste em pleno século 21 - mas sem tornar isso um panfleto. Na verdade, no exercício de fazer de Um Estranho no Lago um suspense pura e simplesmente, Guiraudie consegue tratar do flerte enquanto risco, e do sexo enquanto aventura, sem incorrer em qualquer juízo de valor.

É como um microcosmo do mundo de hoje que o lago primeiro se apresenta, um lugar onde todos se exibem e se observam, bovinamente, sem pudor e sem anonimato. Guiraudie recorre ao crime não só para restabelecer um sentido de voyeurismo mas principalmente de perigo. E como nos melhores suspenses, a ameaça em Um Estranho no Lago é absolutamente física, presente, ainda que não esteja sempre à vista, e daí vem a atração que ela exerce, como um corpo apolínio que sai da água devagar, banhado em contraluz.

Não há clichê mais mal utilizado do que dizer que tal filme é hitchcockiano, mas isso sem dúvida se aplica a Um Estranho no Lago. O cenário de Guiraudie é falsamente plácido como a Bodega Bay de Os Pássaros ou o condomínio de Janela Indiscreta, e a partir do momento em que um crime macula essas paisagens harmônicas elas incorporam a violência - no filme francês, as árvores se agitam violentamente com o vento e até uma correnteza parece afligir o lago.

Filho de fazendeiros, o diretor francês não deve ter passado pela mesma formação católica traumatizante do cineasta britânico, mas, como nos filmes de Hitchcock, o perigo em Um Estranho no Lago vem acompanhado de um senso cristão de moral e culpa, que Guiraudie automaticamente questiona. Quando um detetive interroga Franck sobre o assassinato, não esconde a reprovação:"Como vocês conseguem voltar aqui depois do que aconteceu?". Franck dá uma resposta absolutamente francesa - "não podemos parar de viver" - mas no fundo talvez essa seja mesmo a única resposta possível.

Voltando para a história, o filme começa até que bem, focando principalmente na amizade entre Franck (Pierre Deladonchamps) e Henri (Patrick d’Assumçao). Franck começa a frequentar o local em busca de um parceiro. Henri, que já vivenciou experiências homossexuais, não se considera gay e frequenta o local para ver o tudo o que acontece. A amizade entre eles cresce cada dia mais, chega até a ser bonitinho, pois Henri foge totalmente dos “padrões e estereótipos” do mundo GLS e Franck é do tipo bonitão que todos desejariam ter pelo menos uma transa. Por um momento, seria até interessante se eles se envolvessem, mas a história toma outros rumos.

Ao presenciar um crime, Franck percebe que aquele lugar é muito perigoso para qualquer um. Essa é uma das partes mais intensas de todo o filme. No decorrer da trama, Franck se apaixona por Michel (Christophe Paou), o criminoso responsável pelo ato. A partir daí, a história entre Henri, Franck e Michel se entrelaça de uma forma arrastada, chegando a cansar toda uma história contada em apenas 97 minutos de filme.

Cinemascope---Um-Estranho-no-Lago-PôsterUm Estranho no Lago (L’inconnu Du Lac)

Ano: 2013

Diretor: Alain Guiraudie.

Roteiro: Alain Guiraudie.

Elenco Principal: Pierre de Landonchamps, Christophe Paou, Patrick d’Assumcao.

Gênero: Drama

Nacionalidade: França

 

 

 

Veja o trailer:

Nenhum comentário:

Postar um comentário